Soul, R&B, Gospel, Jazz,
Blues ou Rock ‘n’ roll: nenhum estilo em particular era escolhido ou deixado de
parte. Inspirado inicialmente por Nat King Cole e Charles Brown, Ray Charles
tornou-se numa lenda da música, cuja habilidade para composições e arranjos
vinha diretamente da sua cabeça, onde conseguia ouvir a música primeiro e, em
seguida, transmiti-la com o coração. Quem consegue ficar indiferente a melodias
como Georgia on My Mind, I Got a Woman ou Mess Around?
Quando Ray Charles é
lembrado, chega de imediato a sua imagem de homem de pele negra, sentado à
beira do piano, de óculos escuros (que se habituou a usar desde jovem em
virtude de ser cego) e com um largo sorriso branco. Acontece, porém, que nem
todos os dentes de Ray Charles eram naturais. A evidência é clara na capa do
seu CD Genius Loves Company, onde é facilmente detetado um gancho de uma
prótese esquelética no seu dente canino superior do lado esquerdo. E que
elogios merece este trabalho protético. Numa época ainda distante dos
conhecimentos de hoje, não só a componente estética está natural, como a
fonação não se encontra influenciada, factor especialmente importante neste
caso por se tratar de um músico com exposição pública à escala mundial.
Foi ainda
enquanto estudante universitário, com o livro Fundamentos de Dentística
Operatória, de José Mondelli, que aprendi sobre a importância de não estar
constantemente a conversar com os doentes a olhar para os seus dentes, pois
estes estão sobretudo a tentar observar os nossos olhos. Foi por isso que me
penitenciei, quando, ao observar a imagem de Ray Charles, identifiquei primeiro
o gancho indicativo de uma prótese esquelética junto ao seu dente canino… e só
depois é que notei na maravilhosa imagem do piano reflectido nos seus óculos.
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