Esculápio

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Esculápio. Deus da Medicina, filho de Apolo e da mortal Coronis.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Os molares d' El Rey


A saúde dos reis sempre constituiu um fenómeno de grande impacto social e de interesse público e diplomático. Em todos os tempos, a medicina prestou especial atenção às principais figuras do reino. Perante qualquer fenómeno de doença ou de curiosidade eram convocados os médicos mais conceituados para acudir o Monarca. Naturalmente, assim acontecia também com os maxilares e os dentes de Suas Altezas Reais. No Egito, sobram poucas dúvidas aos estudiosos de que terá sido uma cárie no maxilar superior que causou a morte, por infecção disseminada, ao faraó Ramsés II. Em França, asseguram os documentos oficiais que Luís XIV, o Rei Sol, terá nascido no dia 5 de Setembro de 1638 já com dois dentes visíveis nas gengivas, garantindo-se o mesmo sobre o Imperador Napoleão Bonaparte e o Rei Ricardo III de Inglaterra.

Nos registos médicos da Real Câmara portuguesa existem duas referências em particular que merecem ser partilhadas e que, devidamente comparadas, demonstram, pelo espaço temporal entre os dois períodos régios, a evolução científica que a medicina portuguesa, em conjunto com as outras sociedades europeias, foi adquirindo e que já dispunha no início do século XX.

O primeiro trata-se de um registo, à luz de hoje, bizarro e pitoresco, em que o “concílio dos sábios” determinou que um ossículo ensanguentado, expelido através da narina de Sua Majestade D. Pedro II (Reinado: 1683-1706), se tratava de um resíduo fragmentário de uma perna de tordo ingerida três semanas antes e que não tinha qualquer relação com a volumosa lesão escavada no palato, com fístula e erosão, provável manifestação oral de doença sexualmente transmissível, a mais suspeita causa de morte do Rei.

Em contraste, dois séculos mais tarde, em Janeiro de 1906, o Dr. Tomás de Mello Breyner, escrevia no seu diário aquela que é talvez a primeira descrição sobre a relação entre diabetes mellitus e doença periodontal, a propósito da situação clínica do Rei D. Carlos I (Reinado: 1889-1908): “Fui ao Paço das Necessidades procurar a rainha para lhe dizer que El-Rei é um diabético. Com 22,560 g de açúcar por litro. (...) Bem desconfiava eu quando há menos de um mês lhe caíram uns dentes molares.” 

Publicado na revista Dentistry, Dezembro 2013:



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