Esculápio

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Esculápio. Deus da Medicina, filho de Apolo e da mortal Coronis.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A máscara de Joe Palazola


Do outro lado do telefone, o médico garantia que era mesmo um conhecido de Joe Palazola, a quem havia sido dada alta recentemente do Hospital Peter Beng Brigham em Boston, após um transplante renal bem sucedido.

De que chamada se tratava? Palazola - dizia a voz - tinha acabado de ser preso por suspeita de assalto a um banco. Um agente da polícia tinha visto Joe no seu carro com uma máscara de dentista e um chapéu de coco puxado para baixo sobre os olhos e forçou-o a parar na berma da estrada para que o acompanhasse à esquadra. Incrédulo, o médico retorquiu que Joe Palazola se tratava de um doente a realizar uma forte medicação imunosupressora para prevenir a rejeição do seu novo órgão. Como tal, o uso da máscara fora do hospital não era mais que uma precaução para potenciais infecções. Vivia-se então o ano de 1964…

Não obstante, a medicação imunosupressora que se usava inicialmente era demasiado inespecífica. Além de dificultar a rejeição, diminuía todas as defesas do organismo e, como tal, o tempo de sobrevivência era curto. O passo seguinte para o sucesso da transplantação foi, pois, a descoberta de imunosupressores seletivos do fenómeno de rejeição. Foi o caso da Ciclosporina, descoberta em 1972 por Jean-François Borel e apenas aprovada em 1983, que melhorou, de forma notável, o prognóstico e a qualidade de vida dos doentes submetidos a este tipo de intervenção.

Nos dias de hoje, a transplantação, associada à devida medicação, é um ato cirúrgico com elevada taxa de sucesso e, embora envolvido em diversos dilemas éticos e que apenas deve ser aplicado com critérios psicológicos bem definidos, até o transplante da face humana já é uma realidade clínica. Em Março do ano passado correu mundo a notícia do mais extenso transplante da face jamais realizado. Na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, Richard Norris teve direito a uma nova face, que incluiu a mandíbula, os dentes e a língua. Sempre me interroguei sobre aquela dentição transplantada. Terá algum médico dentista feito parte dessa equipa de transplantação? Será que a presença de eventuais infecções de origem oro-dento-facial, antes do transplante, terão sido excluídas e, depois do transplante, controladas? Ou será que tudo tem evoluído menos a máscara de Joe Palazola?


Crónica publicada na revista Dentistry. Edição Outubro 2013

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