Esculápio

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Esculápio. Deus da Medicina, filho de Apolo e da mortal Coronis.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O inventor da anestesia


No princípio tudo era Deus, luz e perfeição, mas os dentes de Eva e Adão, que cometeram o pecado de trincar aquele fruto proibido e tentador, trouxeram consigo a expulsão do paraíso e o início de uma vida na Terra onde passaria a existir dor e o sofrimento. Desde então que as “dores de dentes” não mais abandonaram os humanos e, desde o princípio dos tempos, são inúmeras as histórias e relatos que, acumuladas geneticamente, ainda hoje tornam inseparáveis as palavras “dentista” e “medo”.

Mesmo com o auxílio de algumas substâncias opiáceas e de álcool, durante séculos foram vários os amigos e companheiros que, como forma de abstrair, tocaram tambores aos ouvidos ou seguraram as pernas e os braços daqueles que gemiam de dor ao ouvir estilhaçar os seus molares a serem “arrancados” à força .

Finalmente, em 1844, Horace Wells, um jovem dentista de Hartford, resolveu fazer uma experiência em si mesmo: inalar óxido nitroso – o “gás hilariante” – e pedir a um colega que lhe extraísse um dente. Sob efeito do gás, o dente de Wells foi extraído e este não sentiu qualquer tipo de dor. Contudo, a sua fama não durou mais de um mês. Num tempo em que os conhecimentos fisiológicos em relação à difusão dos anestésicos eram manifestamente insuficientes, na demonstração que convocou perante um grupo de cirurgiões da Harvard, o obeso e alcoolizado que se sujeitou ao teste sentiu uma enorme dor, fazendo com que o “anestesista” caísse em profundo descrédito, deixando de trabalhar e, inclusivamente, suicidando-se algum tempo depois.

Todavia, aquele momento representou o início de uma nova era. Apenas dois anos mais tarde, um outro dentista, William Thomas Green Morton, que tinha sido colega de Horace Wells no seu consultório, manipulou éter de uma forma tão convincente, que permitiu ao cirurgião John Collins Warren a reparação de uma extensa anomalia vascular de forma calma e sem dor, revolucionando a cirurgia para sempre.

A American Dental Association acabou por homenagear postumamente Horace Wells, em 1864, como o inventor da anestesia moderna, sendo que a American Medical Association também reconheceu o seu feito em 1870. Meritoriamente, existe uma estátua sua no Bushnell Park em Hartford e foi-lhe erigido um monumento na Place des États-Unis, em Paris, a 27 de Março de 1910, durante a décima sessão da Federação Dentária Internacional (FDI).


Crónica publicada na revista Dentistry. Edição Julho 2013

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