Sentado num snack-bar,
oiço a conversa dos senior partners, dos
regional sales managers e dos consultants que tomam café entre si. À
esquerda, falam do novo branding da
empresa cujo design veio diretamente
dos States. À direita, discutem-se os
rankings. Atrás, outros falam do
filho que foi alvo de bullying e no WC uma mulher bonita retoca o seu blush para que não se note a marca do piercing antes da entrevista.
De facto,
o estrangeiro está na moda. E não é só nas palavras importadas. Todos os dias,
os tablets dão notícias de mais um
português que “fugiu daqui” à procura de soluções para a sua vida. Estudar em New York, trabalhar no UK, viajar por uns tempos, fugir às
dívidas, ir de férias... Tanto faz. De norte a sul,
no estado, na moral e na economia, toda a gente diz que o país está perdido.
“Viste
quantos médicos dentistas foram despedidos ontem? Vão ser todos substituídos
por jovens médicos dentistas estagiários até Setembro” - diz o comercial assistant para a front office da clínica do shopping, enquanto entra lentamente de smartphone na mão. Na
verdade, os números da Ordem não enganam. Espera-se que, em 2016, existam cerca
de 11 510 médicos dentistas em Portugal.
Houvesse coragem e reduziam-se os numerus
clausus nas Universidades, digo para mim próprio, enquanto termino a minha sandwich de queijo brie.
“De um
país cheio de cavaleiros que davam cutiladas nos mouros é isto que sobra? Um país desorganizado só com políticas de
cosmética e não de fundo...”, vou pensando enquanto a factura de 3,75 € é tirada
na nova máquina registadora de software
certificado.
Farto de
estrangeirismos, pego no meu umbrella
e saio já atrasado para o trabalho. Desço a calçada e começo a ver o rio que
desagua no oceano azul. Novamente, o meu pensamento de largar Portugal está vencido.
Ofereço o meu guarda-chuva a alguém que dorme ali e faço-me ao caminho de forma
apressada.
Crónica publicada na revista Dentistry. Edição Março 2013
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