Esculápio

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Esculápio. Deus da Medicina, filho de Apolo e da mortal Coronis.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Sorriso de Ulisses


Escreve a lenda popular e romântica que a cidade de Lisboa foi fundada por Ulisses, o herói da Odisseia de Homero. Hoje sabe-se – os dados arqueológicos apontam nesse sentido – que a atual capital portuguesa foi descoberta pelos Fenícios. No entanto, por que razão Lisboa foi sendo sempre associada ao nobre guerreiro que supostamente nunca terá passado de Ogígia, algures no mar mediterrâneo?

A hipotética associação do nome latino da cidade de Lisboa, Olissipo, com o do herói grego tem uma longa tradição erudita na literatura portuguesa: constitui uma representação épica na obra de Luís Vaz de Camões, torna-se mito com Fernando Pessoa, é a voz do exilado e do dever cívico para Manuel Alegre e trata-se do fundador da polis (cidade/política) moral e cívica dos homens na escrita de Eça de Queiroz.

Nos dias de hoje, observa-se uma polis tomada por pessoas que vivem isoladamente, que não se cumprimentam nas ruas e onde a componente humana é mais reduzida. De facto, "os portugueses estão a sorrir menos (...)". Em 2011, esta foi uma das conclusões do projeto Uma década de sorriso em Portugal, realizado pelo Laboratório de Expressão Facial da Emoção (FEELab) da Universidade Fernando Pessoa, após a análise de milhares de fotografias na imprensa diária.

Certamente que, desde então, a “crise” e as convulsões permanentes do Estado da Nação não têm sido contributos favoráveis para a alteração dessa tendência.

É tempo de voltar a dar vida à lenda. Neste tempo difícil que teima em não passar, a melhoria da condição de vida dos portugueses dependerá essencialmente da vontade de cada um de nós. Será a presença do sorriso nobre, corajoso, humano e genuíno no dia-a-dia que voltará a trazer luz à cidade e à política. Tal como Ulisses.


Crónica publicada na revista Dentistry. Edição Fevereiro 2013

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