Escreve a lenda popular e romântica que a cidade de
Lisboa foi fundada por Ulisses, o herói da Odisseia de Homero.
Hoje sabe-se – os dados arqueológicos apontam nesse sentido – que a atual
capital portuguesa foi descoberta pelos Fenícios. No entanto, por que razão
Lisboa foi sendo sempre associada ao nobre guerreiro que supostamente nunca
terá passado de Ogígia, algures no mar mediterrâneo?
A hipotética associação do nome latino da cidade de
Lisboa, Olissipo, com o do herói grego
tem uma longa tradição erudita na literatura portuguesa: constitui uma representação
épica na obra de Luís Vaz de Camões, torna-se mito com Fernando Pessoa, é a voz
do exilado e do dever cívico para Manuel Alegre e trata-se do fundador da polis (cidade/política) moral e cívica dos
homens na escrita de Eça de Queiroz.
Nos dias de hoje, observa-se uma polis tomada por pessoas que vivem
isoladamente, que não se cumprimentam nas ruas e onde a componente humana
é mais reduzida. De facto, "os portugueses estão a sorrir menos (...)".
Em 2011, esta foi uma das conclusões do projeto Uma década de sorriso
em Portugal, realizado pelo Laboratório de Expressão Facial da Emoção
(FEELab) da Universidade Fernando Pessoa, após a análise de milhares de
fotografias na imprensa diária.
Certamente que, desde então, a “crise” e as
convulsões permanentes do Estado da Nação não têm sido contributos favoráveis
para a alteração dessa tendência.
É tempo de voltar a dar vida à lenda. Neste tempo
difícil que teima em não passar, a melhoria da condição de vida dos portugueses
dependerá essencialmente da vontade de cada um de nós. Será a presença do
sorriso nobre, corajoso, humano e genuíno no dia-a-dia que voltará a trazer luz
à cidade e à política. Tal como
Ulisses.
Crónica publicada na revista Dentistry. Edição Fevereiro 2013
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