Consciente de que a aparência física e a sobriedade
das principais figuras americanas seriam fundamentais para a consolidação da
virtude republicana, George Washington vivia afetado psicologicamente pelos
seus graves problemas dentários. Segundo se conta, aquando da inauguração da
sua estátua no Capitólio, em 1789, apenas lhe restava um dente e vários são também
os relatos que referem que o primeiro dos presidentes colocava rolos de algodão
no interior da sua boca para que estes lhe conferissem um aspeto facial mais
preenchido aquando dos seus retratos.
Simultaneamente, John Greenwood, filho do
primeiro dentista americano nativo, ia-se tornando reconhecido na sua prática por
inventar o primeiro motor de pé para consultórios dentários. Mal imaginaria que
a sua fama correria a América e chegaria aos ouvidos de alguém com tantas
necessidades de tratamento como George Washington. Depois de várias investigações,
duas próteses em ouro com os dentes esculpidos em marfim de hipopótamo,
montadas num sistema que ligava a prótese superior e inferior através de duas
molas, fariam história, ligando para sempre o presidente americano ao seu dentista
particular.
A partir de 1963, decidiu-se incluir, no novo
desenho da nota de “one american dollar”, o retrato de George
Washington, por Gilbert Stuart, datado de 1796. Desde então tem existido uma
imensa especulação em torno do seu ar tão sério, sendo-lhe sempre associado um
ar carrancudo e de mau humor. Acontece, no entanto, que uma das principais indicações
de John Greenwood era a de que os dentes superiores e inferiores tinham de estar
permanentemente em contacto, pois eram a única forma de o presidente conseguir
manter as suas próteses removíveis no lugar. Posto isto, provavelmente, o seu ar
sério e carrancudo não é mais do que uma tentativa presidencial de não ficar
socialmente desdentado.
Crónica publicada na revista Dentistry. Edição Setembro 2013
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